quarta-feira, 30 de setembro de 2009

.o iê iê iê de arnaldo antunes

ILUSTRAÇÃO: JEAN MATOS


Arnaldo Antunes


Album: Iê Iê Iê
Artista: Arnaldo Antunes
Gravadora: Rosa Celeste

O muso da vanguarda e do concretismo se rende ao pop dançante e retro.

Seria coincidência? 2009 parece ser o ano do som retrô. Erasmo Carlos resgatou velhas glórias em Rock ’n’ Roll. Pitty veio com a pegajosa “Me Adora”, repleta de ecos da jovem guarda. E agora nada menos do que Arnaldo Antunes, o homem que sempre esteve associado à vanguarda, parece ser o mais novo interessado em resgatar sonoridades passadas. Mas, antes disso, houve a participação de Arnaldo em Pequeno Cidadão, projeto de música infantil tão bem-sucedido que fez o músico adiar por um tempo o lançamento de Iê Iê Iê. O título do décimo álbum de estúdio de Antunes não traz qualquer tipo de conceito irônico. O Iê Iê Iê é usado para ilustrar um tipo de música mais dançante e alegre, sem compromisso com nada “cabeça”. Iê Iê Iê foi produzido por Fernando Catatau (Cidadão Instigado), o que explica a busca por um resultado mais popular. A banda habitual de Arnaldo, formada por Chico Salem (violão e guitarra), Betão Aguiar (baixo) e Marcelo Jeneci (teclados), mostra uma coesão indispensável ao êxito do projeto. Edgard Scandurra na guitarra e Curumim na bateria também ajudam a encorpar o som. Arnaldo aparenta estar se divertindo muito e canta como se fosse apenas o vocalista de uma banda. De certa forma, parece até que ele voltou aos velhos tempos dos Titãs – seriam do Iê Iê Iê?. A novidade é que finalmente temos um disco de Arnaldo Antunes em que as letras concretistas e aliterações vão ficar em segundo plano. O que vai fisgar o ouvinte é a sonoridade, mais envolvente e comercial do que se espera normalmente num disco do artista. As canções criadas por Arnaldo e pelos parceiros como Liminha, Paulo Miklos, Branco Mello, Ortinho, Marcelo Jeneci pedem mesmo uma levada mais pop. O novo trabalho abre justamente com uma música intitulada “Iê Iê Iê”, parceria de Carlinhos Brown e Marisa Monte. O trio tribalista escreveu a canção ironizando o sucesso popular. Arnaldo encarna o popstar em versos como “Eu vou tocar nas FMs/ vocês vão pagar pra me ver”. “A Casa É Sua” é uma simpática baladinha meio ska, meio jovem guarda. A agitada “O Que Você Quiser”, repleta de guitarra com efeito wah wah e clima psicodélico, não faria feio em festas temáticas anos 60. Com a sugestiva “Vem Cá”, Arnaldo cai no groove. Trata-se de um balanço hipnótico que também tem wah wah e órgão com som das antigas. O clima de festa é dissipado um pouco por “Longe”, um tanto atmosférica, mas que não chega a ser experimental. Invejoso” tem letra sarcástica e um clima meio anos 70, meio brega, meio flamenco. Já “Envelhecer” coloca o disco novamente para cima. O tema envelhecimento é tratado de uma forma leve por Arnaldo. Em “Sua Menina”, o cantor e compositor fala de relacionamento, com uma letra bem direta. A próxima, chamada “O Kilo”, traz o Arnaldo mais rascante, enfatizando os versos da canção. O roquinho “Sim, ou Não” dura um minuto e meio, mas dá conta do recado. “Um Coração” é o mais perto que Arnaldo chegou de gravar uma balada soul. A sacolejante “Luz Acesa” fecha Iê Iê Iê num astral condizente com o resto deste surpreendente novo passo musical de Arnaldo Antunes.

POR PAULO CAVALCANTI

Fonte: Rolling Stone

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